Santa Catarina ocupa hoje o topo do ranking nacional de destinos migratórios, tanto para brasileiros de outros estados quanto para imigrantes estrangeiros. De modo geral, essa tendência combina fatores econômicos, qualidade de vida e políticas públicas de acolhimento. Consequentemente, o estado tem observado um aumento significativo na chegada de novos moradores.

1. O que dizem os dados do Censo 2022 do IBGE?
Em primeiro lugar, conforme o Censo Demográfico 2022, Santa Catarina foi o estado que mais ganhou novos habitantes entre 2017 e 2022 — com saldo migratório líquido de 354.350 pessoas, o equivalente a 4,66% da sua população total.
Além disso, isso representa um quadro inédito, pois São Paulo e Rio de Janeiro — até então potências receptoras — tiveram saldos migratórios negativos nesse mesmo período.
Em outras palavras, os números indicam uma mudança profunda na dinâmica populacional nacional, com o Sul do país — especialmente Santa Catarina — tomando protagonismo nesse processo.
2. De onde são os migrantes que chegam?
Antes de tudo, a maioria dos novos residentes Catarinenses vêm de estados vizinhos. Especificamente, 26,8% são do Rio Grande do Sul, 19,1% do Paraná e 12,4% de São Paulo.
Além disso, o estado tem recebido pessoas vindas de lugares mais distantes, como Pará (8,9%), o que mostra que o alcance migratório está se expandindo para além da região Sul.
Em paralelo, o fluxo migratório do Acre, por exemplo, demonstra a atração exercida por SC: entre 2017 e 2022, o estado recebeu um grande contingente de ex-acreanos .
3. Por que Santa Catarina se tornou tão atrativa?
Diversos fatores ajudam a entender esse fenômeno:
3.1. Qualidade de vida
Primeiramente, muitos migrantes relatam que a violência urbana, o trânsito caótico e o alto custo de vida nas grandes metrópoles, especialmente São Paulo, incentivaram a busca por cidades menores. Por exemplo, um ex-morador de São Paulo que se mudou para Curitiba mencionou que seus deslocamentos diários passaram de quase 2 horas a apenas 30 minutos a pé . Analogamente, em SC, a combinação de infraestrutura urbana e bem-estar tem atraído famílias e jovens profissionais.
3.2. Economia dinâmica e mercado de trabalho
Além disso, o estado apresenta uma economia diversificada, com polos industriais (como têxtil, metalmecânico, alimentício), agroindústria e agronegócio estruturado.
Como resultado, a região tem baixa taxa de desemprego e contrata muitos trabalhadores estrangeiros: cerca de 25% dos imigrantes que conseguiram emprego com carteira assinada no Brasil em 2025 estão em SC.
Em síntese, a oferta de emprego formal em setores industriais tem sido um dos principais atrativos.
3.3. Processo de interiorização e imigração internacional
Por outro lado, Santa Catarina também se beneficiou da Operação Acolhida, voltada à interiorização de refugiados venezuelanos. Desde 2018, cerca de 30.209 venezuelanos foram reassentados no estado, com destaque para cidades como Chapecó, Joinville e Florianópolis.
Portanto, esse movimento internacional reforçou o perfil migratório, especialmente nas áreas urbana e industrial.
4. Quem são os imigrantes?
4.1. Internos
Primeiro, entre os migrantes entre estados, predominam jovens adultos (entre 25 e 29 anos), responsáveis por cerca de 22,8% dos fluxos migratórios nacionais.
Isso sugere que SC chama especialmente jovens em busca de emprego e maior autonomia.
4.2. Imigrantes internacionais
Enquanto isso, a comunidade estrangeira que se estabelece em SC inclui principalmente pessoas vindas da Venezuela, Haiti, Cuba e Paraguai. Além disso, há um número significativo de migrantes de 103 nacionalidades cadastradas no CadÚnico até 2020.
Conforme informações de 2020, mais de 15.000 imigrantes estrangeiros estavam registrados, sem contar os não cadastrados.
Em 2021, por sua vez, SC foi o 5º estado com mais pedidos de registro migratório, com 15.461 solicitações, cerca de 9,2% do total nacional.
5. Desafios e iniciativas de acolhimento
Embora o Estado apresente ganhos populacionais, a chegada de tantas pessoas também impõe desafios:
- Xenofobia e discriminação: grupos humanitários, como a Pastoral do Migrante, alertam para casos de exploração laboral e preconceito contra imigrantes.
- Acesso à documentação: obtenção de registro migratório, vistos, visto de trabalho e proteção legal continua sendo um processo longo e burocrático para muitas pessoas.
- Infraestrutura pública: serviços de saúde, educação e habitação precisam se ajustar ao aumento da demanda decorrente da migração.
Nesse cenário, o governo do estado e diversas prefeituras têm adotado políticas de acolhimento e integração. Em maio de 2025, foi realizada a 1ª Conferência Estadual de Migrações, Refúgio e Apatridia, com foco no aperfeiçoamento dessas ações.
Além disso, iniciativas como a Pastoral do Migrante oferecem apoio jurídico, acolhimento emergencial, cursos de português e mediação cultural para os novos residentes.
6. Impacto econômico: empregos e setores industriais
Na economia, Santa Catarina tem sido um referência no aproveitamento da força de trabalho imigrante:
- Em 2024, estrangeiros representaram 18% das novas admissões com carteira assinada no estado.
- No primeiro trimestre de 2025, a cada quatro estrangeiros contratados no país, um foi para SC; totalizando 5.429 novos empregos formais por imigrantes, principalmente na indústria alimentícia — com 74,7% provenientes da Venezuela.
Portanto, o estado se consolidou como polo de atração de talentos estrangeiros em áreas da agroindústria, beneficiando tanto empregadores quanto trabalhadores.
7. Migração: interna e externa de mãos dadas
É importante destacar que o crescimento populacional de Santa Catarina não vem apenas da migração interna. A diversificação do perfil populacional com imigrantes do Haiti, Cuba, Paraguai e Venezuela intensifica a criação de comunidades multiculturais nas principais cidades — Chapecó, Joinville, Blumenau e Florianópolis em especial.
Essa convergência de fluxos internos e externos tem contribuído não só para o aumento demográfico, mas também para o desenvolvimento cultural e econômico do estado.
8. Projeções futuras
Finalmente, a tendência sugere que Santa Catarina continuará atraindo migrantes, sobretudo porque:
- Avanços no agronegócio, infraestrutura e trabalho remoto reduzem a necessidade de residência em grandes centros;
- A reputação de qualidade de vida, segurança relativa e mercado de trabalho atrativo permanecem fortes;
- As políticas de interiorização e acolhimento — especialmente para imigrantes vulneráveis — devem ser ampliadas.
Desse modo, cabe ao poder público local e à sociedade civil assegurar que o crescimento seja gerido de forma sustentável, com políticas eficazes de educação, saúde, habitação e integração.
Considerações finais
Em síntese, Santa Catarina deixa de ser apenas um destino histórico de imigrantes europeus e ganha protagonismo nas migrações internas e internacionais contemporâneas. Embora já fosse referência em desenvolvimento e infraestrutura, a combinação de economia aquecida, políticas de interiorização, qualidade de vida e acolhimento a estrangeiros transformou o estado em capital migratória do Brasil, com 354 mil novos moradores entre 2017 e 2022.
Contudo, para garantir que essa nova onda populacional seja positiva, é crucial que o governo e a sociedade promovam:
- Políticas integradas de regularização migratória;
- Combate à xenofobia e exploração no mercado;
- Investimento em serviços públicos para absorver o aumento demográfico.
Assim, seguindo essa trajetória, Santa Catarina poderá se consolidar como um exemplo de estado que une prosperidade econômica e integração social, servindo de modelo para outras regiões do país.